26.10.06

cartograma#52

"Muitas filosofias referem-se à vista: poucas ao ouvido; menos crédito ainda dão ao tato e ao odor. A abstração recorta o corpo que sente, suprime o gosto, o olfato, o tato, conserva apenas a vista e o ouvido, intuição e entendimento. Abstrair significa menos sair do corpo do que o partir em pedaços: análise. Recuo ante a dificuldade erguendo um palácio de abstrações. (...) A alma e o corpo não se separam, mas se misturam, inextricavelmente, mesmo na pele. Assim, dois corpos misturados não formam um sujeito separado de um objeto."

-Michel Serres, Os Cinco Sentidos - Filosofia dos corpos misturados, cap.1.

cartograma#51 - estratificação...

...é o movimento de organizar camadas, matizes.

25.10.06

cartograma#50 - o campo II - fractal

cartograma#49 - terminação

a pele, o mais profundo de nós mesmos.
o mais profundo é a interface.
não há exterior nem interior, dentro ou fora.
o fora cruza adentro, o dentro verte afora.
dentro/ fora representam adensamentos da substância.
a
terminação é elemento de negociação.
a
terminação é o ponto mais profundo do corpo.
o elemento de interface, negociação.
na
terminação ocorre a partilha da sensível.

dentro/fora = variações de densidade, espessuras.

suporte rudimentar: Paint Brush.

cartograma#48 - o campo

o campo
platô de intensidade zero, plano de imanência, plano de consistência, substância.


sobre a figura: tentativa de expressão da matriz intensiva, derivada e amplificada de forma elementar com ferramentas digitais rudimentares oferecidas por softwares massivos da Kodak, com finalização gráfica precária no Paint Brush. imagem-base tomada de uma fotografia do olho, escolhida e desvirtuada como forma de apresentar o campo intensivo aquém da visão. uma caricatura do olhar. registra o ponto esparso sob qualquer ângulo de visão, procurando nossa dimensão pré-perceptiva, sensorial. sensorialidade do corpo. é necessário estabelecer uma distinção entre sensação, percepção e cognição. deslizando sob a imagem espetacular e seu entendimento, sob a função imagética do olhar e a estrutura do saber, deslizando sob os territórios, um fluxo intensivo, o campo das vibrações, das afetações. o platô com intensidade = zero atingindo a interface orgânica, pode ou não ser percebido e pode ou não ultrapassar o limiar cognitivo, na inteligência ou na memória. o plano de imanência ou de consistência é substância intensiva que atravessa a carne; deste plano de sensorialidade é que se destacarão fragmentos na forma da visão ou da imagem. no intensivo, o corpo não trabalha com a imagem; o intensivo é um abismo, a percepção é sua borda, a cognição é seu mapa.

- variações do campo ao território:

ou

- o que se passou?


zona de cor outra, zonas de cor = segmentaridade maleável, territorialidades flexíveis –ecologias, subjetividades, dimensões e matérias que atingem forma expressiva, parcial ou plenamente inteligíveis, quase-estruturas ou estruturas abertas. zonas de expressão modulada desde a substância primeira: do olho ao olhar, do olhar ao ver, imagem em movimento. zona de utilidade, identificação. zona do possível onde ele já pode ser iimaginado em evento. zona preta = segmentaridade dura. energias tangentes de captura; impulsos de permanência. forças tangentes cuja tendência é estacionária e parasitária, onde o olho, o olhar e a visão tendem ao Mesmo. movimento de circunscrição. zona do possível onde ele tende ao Mesmo. o círculo central em torno do núcleo representa a tendência massiva de centralização e organização, tendência capitalística do equivalente comum. agregação de forças dispersas no vórtex unitário, para onde tende toda a dureza que dali mesmo se irradia. zona branca = zona de fuga, escape. zonas ditas fronteiriças ou marginais. o fronteiriço e o marginal ocorrendo entre os centros e nas periferias. zonas do possível, mesmo que o possível não tenha sido convertido em evento, nem possa ser imaginado enquanto tal; alta dose de imprevisibilidade e virtude dissidente radicalmente dissidente. zona cinza = pontas de escape tanto ao dado quanto ao possível. futuros insondáveis. aquilo que ainda não existe.

a figura do campo seria melhor entendida se ganhasse espessura e profundidade, multidimensionalidade e movimento (ver figura do fractal no cartograma#50 para representação gráfica mais adequadas insinuando interpretações mais caóticas. utilizar substâncias de expansão do campo perceptivo antes.)

cartograma#47

cartograma#46 - Murilo Mendes

***

IDÉIAS ROSAS

Minhas idéias abstratas,
De tanto as tocar, tornaram-se concretas:
São rosas familiares
Que o tempo traz ao alcance da mão,
Rosas que assistem à inauguração de era novas
No meu pensamento,
No pensamento do mundo em mim e nos outros:
De eras novas, mas ainda assim
Que o tempo conheceu, conhece e conhecerá.
Rosas! Rosas!
Quem me dera houvesse
Rosas abstratas para mim.

-Poesia Liberdade, 1943-1945.

24.10.06

cartograma #45


"É como na vida. Há na vida uma espécie de falta de jeito, de fragilidade da saúde, de constituição fraca, de gagueira vital que é o charme de alguém. O charme, fonte de vida, como o estilo, fonte de escrever. A vida não é sua história; aquele que não têm charme não têm vida, são como mortos. Só que o charme não é de modo algum a pessoa. É o que faz apreender as pessoas como combinações e chances únicas que determinada combinação tenha sido feita. É um lance de dados necessariamente vencedor, pois afirma suficientemente o acaso. Por isso, através de cada combinação frágil é uma potência de vida que se afirma, com uma força, uma obstinação, uma perseverança ímpar no ser. É curioso como os grandes pensadores têm, a um só tempo, uma vida pessoal frágil, uma saúde bastante incerta, ao mesmo tempo que levam a vida ao estado de potência absoluta ou de 'grande Saúde'. Não são pessoas, mas a cifra de sua própria combinação."

-Gilles Deleuze, Diálogos, cap.1a.
c

cartograma#44 - Henry Miller

"Um pouco mais de felicidade, pensei comigo enquanto escutava as palavras do rapaz, e ele se transformaria no que se chama de um homem perigoso. Perigoso porque ser feliz o tempo todo seria atear fogo ao mundo. Fazer o mundo rir é uma coisa; torná-lo feliz é coisa muito diferente. Ninguém jamais o conseguiu. As grandes figuras, aqueles que influenciaram o mundo, para o bem ou para o mal, sempre foram figuras trágicas. Até são Francisco de Assis era um homem atormentado. E mesmo Buda, com sua obsessão por eliminar o sofrimento, não se pode dizer que tenha sido exatamente um homem feliz. Estava além disso, se preferirem: estava sereno, e quando morreu, ao que se conta, seu corpo todo fulgurava, como se a própria medula dos seus ossos estivesse em chamas."

-Henry Miller, Sexus, cap.6.