16.7.06

cartograma#19




Um golpe só, véio. Eu só ouvi um golpe, só! E era som de golpe certeiro, com raiva, daqueles de cima pra baixo, fazendo uma volta. TUC!!! Toda a força num ponto só. Acho que foi coisa de profissional. Pobre do João. Coitado... As pessoas dão risada quando eu falo, mas acho que foi coisa meio de ninja: aqueles orientais que passam a vida inteira descobrindo a melhor forma de te colocar no chão sem que tu perceba. Ninja, samurai... Sei lá o nome dessa gente. Mas o negócio deles é eficiência. EFICIÊNCIA, cara! Nem sei quem pode ter sido; todo mundo gostava do João. Era parceria. Mas, nunca se sabe... Mas deixa eu te contar. Tava lá na Verinha, vizinha nossa, que mora embaixo do apê do João, ex-apê do João. A gente tava ouvindo um som, tomando uma ceva. Já era bem de madrugada... Batendo um papo, queimando um e tal. Falando nisso: já fumou aquele beck que o Alberto trouxe de Rio Grande? Bah... Primeira linha. Coisa fina. Ele tá com uma cara lá na casa dele. Bom, a gente tinha até passado no João pra ver se ele tava a fim: sabe que o João era parceria, né? E ele, tri estranho, disse que não e tal e que tinha que terminar um texto pra segunda e não sei mais o quê. Tá bom! Tá bom! Aí a gente ficou curtindo um Coltrane, fora da casinha, e, sabe aquela música que tem um paparapapapapáááá? Pois é. A fudê aquela música. Tem na caixa da Atlantic, aquela de cinco cd’s, no de sobras de estúdio e tal. E aí, bem na hora do paparapapapapáááá, a gente ouviu um TUC. Tipo: barulhão, só que daqueles meio surdo, sabe? Tipo surdão. Samba!!! Foi meio que paparapapapa... TUC!!! Bem no compasso. A gente achou aquilo meio estranho e tal, vinha do apê do João. Até achei que era a louca de baixo dando vassourada no teto pra gente desligar o som. Mas vinha de cima mesmo. Do apê do João. Daí a Verinha, que é toda atucanada e já tava na nóia quis subir pra ver se tinha acontecido alguma coisa. Saca que o João morava sozinho e tinha uns peripaque de vez em quando. Acho que o cara tinha uns lances de neurônio, tomava uns remédios aí... Dizem. Daí a gente subiu e tocou na campainha. E nada. E nada. Tocou de novo. E nada. Aí a Verinha se atucanou mesmo. Sabe como é mulher, né? Aí a gente desceu na portaria e pediu a chave do apê, que ela sabia que o João deixava com o cara pra qualquer emergência. Bah, cara!!! Tu chegou a ver o porteiro do edifício da Verinha? Cara!!! Que figura!!! O cara é igual ao Reginaldo Rossi, cara. Igual. Eu tive que me segurar pra não rir, meu. É bizarro. É dos piores, "CAMINHONEIRO", como diria a Virgínia. Daí a gente subiu lá, eu, a verinha e o Reginaldo, abriu a porta e encontrou o João na sala. Menos a testa dele, que a gente ia ter que procurar uns mil anos até achar. Ia ficar procurando até hoje. não existia mais, cara... Bah. Tava que era só miolo. Olhão esbugalhado. Sangue por tudo no chão. Aí foi gritedo, choradêra, vomitório, tudo... Bah... Mulher é foda!!! Ah! E a véia da vassoura gritando na janela pra gente calar a boca, é claro. O Reginaldo tremendo horrores e querendo chamar a SAMU... Vê se pode? O João ali, sem testa, e o pinta querendo chamar a SAMU. Sinistro... Bueno. Daí eu tive que tomar uma providência: botei um som, peguei uma ceva na geladeira, abri, tomei um gole e disse "Tá, vâmo dá um jeito na situação do presunto." Nessas horas o cara tem que manter a lucidez, porque sempre tem alguém pra cagar no patê. Mandei a Verinha pegar um saco de lixo bem grande, juntei o cutelo que tava jogado no tapete, do lado do João, e PAF PAF PAF: nem deu tempo de gritar e o Reginaldo já foi pra banha. Daí a Verinha se acalmou. É foda mesmo... Não curto esses lances na frente de estranhos. Aí fechamos a porta, fumamos um crivo e cortamos o João. Só não coube a cabeça no saco. O João era pequeninho, até... Aí a gente passou o resto da noite moendo ele naquelas maquininhas, como é o nome? Multiprocessador. Aqueles da ARNO que a Verinha tem. Aquilo. A gente até pensou em deixar pra comer o João com a gurizada, na parceria. Mas larica é foda, né? Larica é foda. Acabou rolando uma panqueca. Saca que panqueca é a larica perfeita, né? Tu esmurruga o bife e a seda é a massinha. Hehe. Mas não dá nada, o Reginaldo eu coloquei no freezer. Dá pra fazer um churras qualquer dia. É só combinar.

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