-o senador da república fora enterrado ainda vivo-
fixo a lâmpada sob a pantalha vermelha na mesa de cabeceira e olho hipnotizado. ela vai queimando minhas vistas pouco a pouco, descolando e secando minhas remelas grudentas e pestanas. vou olhando bem fixo pro pequeno sol cativo de tungstênio torcido no meio da lâmpada de cabeceira 40 uátts. é tão quente e vai me cegando aos poucos, me fazendo lacrimejar, enquanto quase (quase!) me lembro da outra coisa que me fazia o mesmo efeito. o que era?
a corrente de vento surge de trás, com o canto do olho consigo ver o vôo calmo da cortina branca e fina que acompanha a entrada de ar o corpo treme -usava o anel de ouro da família- cobertor caído o frio. não consigo nada além de ver e pensar entre o choque do frio e o sol raso de tungstênio.
tão frio, tremelicando, chacoalhando. respiro pela boca e o ar frio vem cortando de um jeito que me enregela até o escroto saco. tento trazer os joelhos ossos contra o peito e não consigo, nem consigo esfregar as mãos entrecoxas. onde está o meu pinto? e o meu saco? -duas pedras de gelo no uísque- desvio o olhar da lâmpada, cego de lágrimas em arco-íris. esse mesmo calor doentio, infinito, como eu (quase!) reconheci? da onde?
com a visão úmida de remelas, lágrimas e fogo escravo de tungstênio, dentro da lâmpada, vi um par de olhos que não eram os meus.
Olhos sem olhar.
-encontraram o corpo em outra posição-
[com Maurício O. Krebs]
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