Gatos.
Animais silenciosos, sabem moldar seu comportamento às situações para tirar proveito do que as pessoas podem lhes dar, sem misturar negócios com amizade. Poder é negócio. Só. Prazer é poder. Saber manipular o prazer dos outros para obter poder é o mais refinado dos prazeres. Gatos são perversos, no silêncio da sua caminhada noturna.
Ulisses.
Também é silencioso.
É meu único amigo. Não tenho gatos; acho que não preciso correr este risco: uma questão de método. Nunca cative algo que seja incógnito o suficiente para que desconheças seu poder. Ulisses não; tinha poder, sabia usá-lo, era letal, mas me ouvia. Era forte e coerente. Era direto, correto, incisivo e, ao mesmo tempo, sujo, barulhento e amedrontador. Sabia tomar suas diferentes facetas. Suas personas, sombras. Sempre matávamos juntos.
Dividia este prazer comigo desde a infância, quando passei a morar sozinho, a me virar sozinho. É seguro na cidade grande, e é só em quem eu confio, única e exclusivamente. Alguém mais velho, com mais experiência, que sempre me ajudou, depois que vim parar em Porto Alegre. Nossa amizade é estratégica; não viveríamos um sem o outro, jamais. Somos vida compartilhada, somos aura conjunta, mente e corpo, energia de explosão.
Ulisses, niquelado, 7 tiros.
Vive comigo desde os treze anos.
[2000]
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