22.6.09

Grande Poder

Grande Poder. Até aqui, nas sessões anteriores, fiz repetidas referências ao que chamei muito vagamente de Grande Poder. Disse que é em contraposição ao jugo do Grande Poder que os terroristas impõem a presença da rua, que é para ficar à margem do Grande Poder que atuam os clandestinos, que é para não serem tomados pelos sacrifícios inerentes à ascese proposta pelo Grande Poder que os hedonistas celebram os instantes sublimes; e também que é para rasurá-lo de novos manifestos que operamos a anti-ciência e inventamos pensamentos minoritários. Se ainda não tratei de explicar o que tento amarrar sob este termo, porém, é porque acredito que esta discussão demanda uma sessão especial, ou até mais do que uma simples sessão. Entro em passos cuidadosos: para falar do Grande Poder é preciso consultar a esfinge da política, é preciso arriscar decifrá-la, mas nisso também arriscar ser devorado.

Desço em passos lentos aos porões do prédio, onde um funcionário graduado abre uma das grandes portas que dá para o calabouço com uma chave que acha prontamente em seu chaveiro abarrotado; por trás da escuridão imensa que a porta escondia, no breu do calabouço, sinto a presença da esfinge e sussuro – Quero entrar. A esfinge prontamente devolve seu canto de sereia – Mas de que mundo vens, visitante? E como ele chegou a ser o que ele é?

Alguns segundos.

Em primeiro lugar, esfinge, nem a linha, nem o traço, nem a seta são boas metáforas pra nossa história. Tampouco para a crítica. Aliás, podem ser boas metáforas para boa parte das histórias e das críticas, mas nunca para o que se passa por detrás disso tudo, às nossas costas, e aí estará o sucesso de minha tentativa. O que se passou é o que perguntas.

O que se passa?

É uma questão de devires.

A história como linha reta surge produzida pelos historiadores linha reta, aqueles que interpretam o que se passou às suas costas como um tracejado em linha reta; e a crítica como linha reta surge produzida pelos críticos que interpretam o que se passou às suas costas como um tracejado em linha reta. Mas no calabouço disso tudo, imensidão sem luz sob as estruturas que permitem a interpretação – Esfinge! Sei que tens como ambiente o disparate[i], uma multiplicidade de forças em jogo constante. Tu tens o impossível ao teu redor e pedes a nossa resposta improvável como forma de guardares sempre sozinha esta multiplicidade que pertenceria a todos não fosse a tua ganância, para manter esta intimidade com as forças sozinha. Só tu – Esfinge! Guardas a senha que permite esta intimidade e queres esconder nesta escuridão a interpretação que apresenta não a linha como metáfora da vida, mas o disparate.

Não queres que sejamos os historiadores e os críticos do impossível.

Mas eu também quero do disparate.

Esfinge! Eu desejo o impossível, as linhas transversais.

Mesmo que a nossa história seja produzida como um período específico dentro da contagem do tempo cronológico, ou seja, que nossa História seja tomada como um conjunto de épocas e/ou períodos e/ou esquemas que se sucedem no tempo cronológico, e que em sua sucessão a nossa crítica pretenda achar qualquer sentido lógico ou estrutural, sinto que o disparate pré-existe a todo mapa histórico ou crítico e quero é desta política que pré-existe, desta política que produz as condições primeiras para nossa deriva sem fim. Quero entrar neste calabouço e fazer uma história do impossível, produzir uma crítica improvável, provar de uma tal política do disparate, desenvolver uma outra intimidade com o tempo, outra relação com o espaço.

O disparate é uma multiplicidade de jogos de forças, jogos de jogos de força, de forças sobre forças; uma multiplicidade de platôs[ii] intercomunicantes, de temporalidades cronogenéticas[iii], de arranjos que vibram sobre si mesmos e entre si, ou seja, múltiplas durações[iv] que reagem entre si causando toda sorte de choques, fissuras, mudanças de posição, trocas de elementos dispersos etc. Multiplicidade essa que, em seu embate inevitável, também não consegue conter a emergência de diferentes acontecimentos[v], a fulguração das resistências, a produção das diferenças.

Os critérios de vigência e permanência destas durações múltiplas, bem como os graduais de diferença, tudo isso diz respeito às constâncias e às inconstâncias que este jogo de múltiplas durações sustenta entre si, e quando achamos que percebemos algo, eis que algo já mudou e já não podemos mais reconhecer aquilo que há pouco reconhecíamos. É preciso desejar fazer uma história e uma crítica que não estejam ligadas somente à passagem linear do tempo cronológico e à sucessão de possíveis estruturas fundamentais; é preciso contar histórias – contar histórias, esfinge! Ensaiar críticas ligadas a este paradoxo fundamental: que as forças que arranjam são as mesmas que desarranjam, que tudo organiza para desorganizar, desorganiza para organizar. É preciso dizer que o disparate é exterior aos calendários oficiais, é o grande e caótico fora do tempo cronológico e das lógicas estruturais.

Perguntas de que mundo venho e como ele chegou a ser o que é, mas só poderei responder-te quando também me deixares passar para dentro deste calabouço, para as paragens onde vibra este tempo nada convencional, onde é vigente um espaço assimétrico, e nisso tua pergunta não pode ser respondida sem que antes me deixes entrar.

O paradoxo da esfinge.

O disparate mantém uma relação estreita com o tempo e o espaço que temos aqui em cima, o tempo cronológico e o espaço simétrico, isso porque estes jogos de força que corroem as estruturas do prédio também engendram a possibilidade de um mapa, arquiteturas, porque também engendram uma estratégia histórica que nos leva a produzir alicerces possíveis, uma empreitada historiográfica, e também toda uma estratégia crítica e sua fortuna. É no registro do tempo cronológico e no campo do espaço simétrico que produziremos os nossos pontos de localização e ancoragem, os mapas possíveis de determinados arranjos de força e seus efeitos, de uma dada formação entrevista, os pontos nevrálgicos de qualquer análise crítica.

Criar uma intimidade com o disparate não é somente perceber inusitadamente sejam as diferenças e as novidades, sejam as vigências e suas permanências, mas também sobreviver para cartografá-las para dentro do tempo cronológico e do espaço simétrico, nos limites do impossível.

Mas tudo derivará novamente quando uma intuição, uma iluminação, um lampejo, quando fazem suspeitar um arranjo, ou um ponto de inflexão, e então perguntaremos novamente o que se passou às nossas costas, o que passa, que mundo é esse e como ele chegou a ser o que é. Mas sabendo do inaudito, já nos sabemos atrasados e urgentes. O relojoeiro, cercado de relógios, não só deve ter intimidade com o tempo, mas também deve perguntar-se da hora; o agrimensor deve perguntar-se da terra, mas também de sua métrica.

O tempo cronogenético torna possível a coexistência de diferentes arranjos num mesmo recorte do calendário, num mesmo instante, e por isso também podemos dizer que os diferentes arranjos não são períodos históricos, mas camadas de tempo sobrepostas, entrepostas, até contrapostas. Respeitando uma duração própria, mais implicada com a vigência dos problemas que coloca do que com a contagem dos dias que se sucedem, cada um destes arranjos vibra de forma simultânea aos demais, e eles deslizam uns sobre os outros enquanto construímos o canal do tempo cronológico para tentar entendê-los em seu constante fervilhar; não só deslizam como reagem, rebatem-se num jogo atroz. Enquanto arrancamos as folhinhas do calendário, as durações múltiplas lhe roem e extrapolam as margens, criam diques circunvizinhos e agenciam o romano a calendários ancestrais e futuros, a toda sorte de outras temporalidades que nenhuma contagem contínua poderá perceber, que nenhuma cartografia conseguirá abordar senão parcialmente: são mil ou mais, os platôs.

Nunca atingimos o tempo cronogenético com nossas cartografias – Esfinge! Somente reinauguramos sua faceta cartográfica, duplo cronológico. Atingimos o tempo cronogenético com nosso corpo, ou melhor, será o tempo que nos atinge já que o tempo aquilo que pré-existe e extrapola o próprio corpo. As noções e os conceitos que produzimos para dar conta de entender estas passagens e estas marcas que o disparate inaugura lhes são relativamente exteriores. Mesmo que todo mapa ainda esteja ligado à Terra, bem ou mal, fielmente ou não, todo mapa é relativamente exterior ao terreno que cartografa. As noções e os conceitos, as interpretações, isso são conjuntos que surgem como modelagens, como estabilizações, guias de reparos que conseguimos produzir dentro desta multiplidade dinâmica que estamos sempre em vias de compreender.

Cada arranjo das forças fornece um determinado conjunto de urgências, e precisamos das noções e dos conceitos para dar conta destas urgências, para não só engendrar pensamento, mas engendrar toda sorte de redes extremamente complexas que envolvem não somente as teorias que interpretam, mas a materialidade cotidiana de alguém que as executa, aonde e como. Uma teoria é uma prática. O tempo estende-se no espaço. Um arranjo de forças coloca determinadas urgências estratégicas em vigor, e o que resulta daí em mapa é algo efetivamente material e não somente metafísico: a modulação das forças em dispositivos[vi], a modulação das existências em equipamentos coletivos, seus engendramentos, a reorganização própria das generalidades e das particularidades, articulações entre humanos, coisas e a natureza, limiares de visibilidade, regimes de enunciação... uma fagulha, um estopim.

Durante alguns anos, isso desde o final da faculdade até o início do curso de doutoramento, quando procurava alternativas que me permitissem colocar o problema que me apresentas (– Esfinge!), acabei desenvolvendo uma intercessão bastante fértil com cinco cúmplices em especial. Parecia-me que, articulando o que eles propunham, eu conseguia chegar a um cenário suficientemente fiel de como a contemporaneidade se apresentava a mim e de como ela tinha chegado a ser o que é. Este cenário me satisfazia plena e fartamente. Numa intercessão com o filósofo francês Michel Foucault, acompanhei e escrevi sobre as transições que levaram dos regimes de soberania aos regimes de disciplina e controle[vii], reflexões essas que eram suplementadas por uma intercessão com o filósofo francês Gilles Deleuze e também com seu cúmplice, o psicanalista francês Félix Guattari – principalmente no ponto onde aqueles regimes de poder disciplinar e de controle também deixavam perceber modos de subjetivação correlatos, onde os regimes de poder são regimes que concorrem para a produção de si e do mundo ao nosso redor[viii]. Tendo já uma intercessão fértil com estes três cúmplices, ainda encontrei de forma também fértil as cartografias do cientista político italiano Toni Negri e do lingüista estadunidense Michael Hardt, agora por conta da composição de uma cenário mais vasto de transições nos modos de governança e de produção capitalista quando do surgimento daquilo que eles chamam de Império.[ix]

Continuo achando que todo este conjunto de reflexões, e o tanto de entrecruzamentos que elas permitem entre si, qualificando uma a outra sem ter um sentido fusional e monolítico, este conjunto é bastante bom: ele ainda funciona, mesmo que precariamente. Durante os anos de doutorado, ainda procurei outros cúmplices com os quais pudesse estabelecer novos pontos de intercessão, mas confesso que nenhum dos novos causou-me o impacto que os já citados haviam causado, ou pelo menos um impacto suficiente ao ponto de demandar em mim a criação de um novo cenário para hoje. Se é desonesto reproduzir aqui todo um capítulo já defendido e é honesto não desejar escrever de novo sobre o que já se escreveu, prefiro somente indicá-lo e passar adiante.[x]

De resto, quero tratar de outra coisa aqui – Esfinge!

Da queda do muro de Berlim, passando pela queda das grandes torres e suas conseqüências bélicas, chegando à tomada do bunker de Saddam e à atual crise do sistema financeiro mundial, cerca de 20 anos de altíssima velocidade onde a vida coletiva sofreu modificações profundas das mais diversas ordens, nos mais diferentes aspectos e registros. Anuncia-se um novo arranjo. Se acompanharmos os analistas, veremos que não é somente por um motivo, mas por vários e de diversas maneiras que este novo arranjo se apresenta: podemos falar da inauguração de um novo sistema de governança global, ancorado num novo pacto mundial entre Estados, Empresas, Ciência, Mídia e organizações da Sociedade Civil, praticamente todos com suas funções locais modificadas e também funcionando de forma cada vez mais interligada em redes multilaterais a serviço do gerenciamento da instabilidade geral. Podemos falar da inauguração de um novo sistema de produção globalizado, ancorado nos novos regimes nefastos de trabalho, tecnologia e comércio. Podemos falar da crise de legitimidade das ciências não aplicadas, e acompanhar o diálogo cada vez mais próximo e muitas vezes promíscuo entre a comunidade científica, o Estado e a Empresa. Podemos discutir o poder dos meios de comunicação de massa, os procedimentos de formação de opinião, a estética do espetáculo e a publicidade como nova metafísica. Podemos falar das novas organizações do chamado terceiro setor e discutir a sua função dentro do novo sistema não protetor. Também podemos discutir assuntos de atualidade incandescente que revelam uma certa lista de sintomas da atualidade: a novidade das guerras preventivas presidindo a violência entre países e a emergência do direito de exceção; o que se diz e como opera o casamento entre religiosidade e terrorismo, e também os possíveis desdobramentos de uma jihad islâmica desencadeada contra os ímpios do novo e do velho mundo entorpecidos; os problemas enfrentados com os vizinhos latinos e a possibilidade de uma intifada indígena que é menos religiosa, mas com traços bastante nacionalistas e racistas; as grandes modificações ecológicas e os reiterados furores naturais, o quanto representam o imprevisível ciclo da Terra ou o seu reclame mais mortal; a ciência inaugurando a era da hibridização radical entre corpo, natureza e cultura, a medicalização da vida e o surgimento do ciborgue[xi] e do homem pós-orgânico[xii]. Podemos discutir a crise que, em 2008, precipitou-se sobre o mundo inteiro tendo Nova Iorque como epicentro, perguntar até onde ela irá e de quanto será o dispêndio de cifras para conter a voracidade do buraco capitalista, que somado ao roubo generalizado perpretado pelos controladores do sistema financeiro, já chega na cifra de bilhões em moeda forte.

Se optarmos por abrir mão das análises que têm seu foco na geopolítica globalizada ou nos sintomas mundiais e partirmos para análises que levem em consideração as modificações que se processam no modo de vida em seu sentido mais cotidiano – Esfinge! Poderemos também problematizar os surtos de depressão e pânico, a perplexidade e a vertigem, o esfacelamento das relações de vizinhança em paranóia e ressentimento, a emergência da medicalização psiquiátrica como forma de suprimir as angústias existenciais, o novo medo de amar traduzido em solidão ou em exploração superficial do corpo cosmético, o turbinado desejo por consumo, a entrada de todo um novo vocabulário comum intermediando a comunicação entre as pessoas e muito (muito, muito) mais.

Tudo isso é o mundo de onde venho – Esfinge!

E poderia tentar te explicar como tudo chegou ao que é.

Mas não. Cabe sair das cartografias já feitas.

Cabe voltar ao disparate.

Se ainda retomo os temas preocupantes nas cartografias atuais, não é porque quero reabrir a pauta dos discursos queixosos nem do esquerdismo ressentido, mas porque também é necessário preencher de memória o buraco negro da atualidade. Ainda hoje acho que a contemporaneidade fornece melhores condições para a resistência do que as décadas e séculos anteriores, ou pelo menos fornece condições diferentemente colocadas que permitem que forjemos novas e insuspeitas armas[xiii]. Pra mim, o desencanto não faz sentido, e se parte da crítica está abarrotada é porque está tendo que haver-se com suas próprias idiossincrasias. Mesmo que tenhamos que constantemente recolocar a enormidade de temas que indicam a crise generalizada, é preciso aproveitar estas condições diferentemente colocadas para poder ter uma vida melhor, uma vida digna. Ou desejar aproveitá-las. Tanto quanto é preciso que teorizemos sobre isso, é preciso que tenhamos a capacidade de perceber aonde estas diferentes condições de vida são possíveis, aonde algo novo acontece, e estar lá. Principalmente estar lá.

Mas alguns minutos se passaram... e algo mudou.

Deixe-me entrar antes de responder tua charada – Esfinge!

Eis a única resposta que tua charada pode esperar.



[i] “O que se encontra no começo histórico das coisas não é a identidade ainda preservada da origem – é a discórdia entre as coisas, é o disparate”. Ver: Michel Foucault. ‘Nietzsche, a genealogia e a história’ in Microfisica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 1999. p.18.

[ii] “Gregory Bateson serve-se da palavra ‘platô’ para designar algo muito especial: uma região contínua de intensidades, vibrando sobre ela mesma, e que se desenvolve evitando toda orientação sobre um ponto culminante ou em direção a uma finalidade exterior”. Ver: Gilles Deleuze & Félix Guattari. ‘Introdução: rizoma’. op. cit. p.33.

[iii] Ver: Suely Rolnik. “Pensamento, corpo e devir: uma perspectiva ético/estético/política no trabalho acadêmico”. op. cit.

[iv] “A história não é, portanto, uma duração: é uma multiplicidade de tempos que se emaranham e se envolvem uns nos outros. É preciso, portanto, substituir a velha noção de tempo pela noção de duração múltipla. [...] Faz muito tempo que a história se desembaraçou do tempo, ou seja, que os historiadores não reconhecem mais essa grande duraçção única que englobava, em um só movimento, todos os fenômenos humanos: na raiz do tempo da história não há uma coisa como uma evolução biológica que englobaria todos os fenômenos e todos os acontecimentos; há, na verdade, durações múltiplas, e cada um delas é portadora de um certo tipo de acontecimentos. É preciso multiplicar os tipos de acontecimentos como se multiplica os tipos de duração.” Ver: Michel Foucault. “Retornar à história” in Ditos e Escritos vol.2 – Arqueologia das ciências e história dos sistemas de pensamento. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005. p.292-294.

[v] “Em todo acontecimento existe realmente o momento presente da efetuação, aquele em que o acontecimento se encarna em um estado de coisas, um indivíduo, uma pessoa, aquele que designamos dizendo: eis aí, o momento chegou; e o futuro e o passado do acontecimento não se julgam senão em função deste presente definitivo, do ponto de vista daquele que o encarna. Mas há, do outro lado, o futuro e o passado do acontecimento tomado em si mesmo, que esquiva todo presente, porque ele é livre das limitações de um estado de coisas, sendo impessoal e pré-individual, neutro, nem geral, nem particular, eventum tantum...; ou melhor, que não há outro presente além daquele do instante móvel ue o representa, sempre desdobrado em passado-futuro, formando o que é preciso chamar de contra-efetuação”. Ver: Gilles Deleuze. “Viségima primeira série: do acontecimento” in Lógica do Sentido. São Paulo: Perspectiva, 2003. p.154.

[vi] “Através deste termo tento demarcar, em primeiro lugar, um conjunto decididamente heterogêneo que engloba discursos, instituições, organizações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados científicos, proposições filosóficas, morais filantrópicas. Em suma, o dito e o não dito são os elementos do dispositivo. O dispositivo é a rede que se pode estabelecer entre estes elementos. Em segundo lugar, gostaria de demarcar a natureza da relação que pode existir entre estes elementos heterogêneos. [...] Em suma, entre estes elementos discursivos ou não, existe um tipo de jogo, ou seja, mudanças de posição, modificações de funções, que também podem ser muito diferentes. Em terceiro lugar, entendo dispositivo como um tipo de formação que, em um determinado momento histórico, teve como função principal responder a uma urgência. O dispositivo tem, portanto, uma função estratégica dominante”. Ver: Michel Foucault. “Sobre a história da sexualidade” in Microfísica do Poder. op. cit. p.244.

[vii] Ver: Michel Foucault. Vigiar e Punir – Nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 2002.

[viii] Ver: Gilles Deleuze. “As dobras ou o lado de dentro do pensamento (subjetivação)” in Foucault. São Paulo: Brasiliense, 2005. p.101-130.

[ix] “O Império está se materializando diante de nossos olhos. Nas últimas décadas, a começar pelo período em que regimes coloniais eram derrubados, e depois em ritmo mais veloz quando as barreiras soviéticas ao mercado do capitalismo mundial finalmente caíram, vimos testemunhando uma globalização irresistível e irreversível de trocas econômicas e culturais. Juntamente com o mercado global e com circuitos globais de produção, surgiu uma nova ordem global, uma nova lógica e estrutura de comando – em resumo, uma nova forma de supremacia. O Império é a substância política que, de fato, regula essas permutas globais, o poder supremo que governa o mundo”. Ver: Toni Negri & Michael Hardt. Império. Rio de Janeiro: Record, 2001. p.11.

[x] Ver: Stéfanis Caiaffo. “Sobre a capitalização das subjetividades” in Resistência e Militância – Cartografias contemporâneas. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-graduação em Psicologia Social. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, março de 2004. p.29-41.

[xi] Ver: Donna Haraway & Hari Kunzru. Antropologia do Ciborgue – As vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica, 2000.

[xii] Ver: Paula Sibilia. O Homem Pós-orgânico – Corpo, subjetividade e tecnologias digitais. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.

[xiii] “Não cabe temer ou esperar, mas buscar novas armas”. Ver: Gilles Deleuze. “Post-scriptum sobre as sociedades de controle” in Conversações. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1992. p.220.

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